A Dança de Salão Internacional e a Dança Esportiva: possibilidades promissoras de atuação profissional no Brasil

Certamente discutir temas como competição e arte geram reflexões que em muito se antagonizam, porém que podem também se aproximar, principalmente se as contextualizarmos de maneira bastante profunda e clara. É nesse sentido que tomo a liberdade de dizer-lhes que em um futuro próximo certamente abordarei discussões polêmicos como as competições em dança que temos hoje nas mais diversas modalidades, porém, nesse momento inquieto todos os leitores, a se aterem única e exclusivamente em discussões voltadas a modalidade esportiva reconhecida mundialmente como: Dança Esportiva.

Primeiramente, antes de discutirmos especificamente a Dança de Salão Internacional e a Dança Esportiva, é importante ressaltar a escassez de referências que relacionem a prática da Dança de Salão como prática esportiva (SILVA et. al., 2009) e tratem especificamente da evolução desse estilo de Dança. Isso nos levou diretamente ao órgão máximo da Dança Esportiva que é a International Dance Sport Federation (IDSF).

Quando nos deparamos com a Confederação, foi possível conversar com o presidente na oportunidade Carlos Freitag que era o dirigente maior dessa área no mundo. Ressaltamos que tivemos acesso também a um material específico da IDSF que nos foi fornecido visando a uma análise documental. É baseado nesse material que descrevemos a seguir historicamente aspectos significativos voltados a Dança de Salão Internacional.

A Dança de Salão surgiu na Europa entre o fim do século XVII e o início do século XVIII, inicialmente entre as classes mais altas que participavam de eventos sociais e bailes.

Segundo Ried (2003, p. 9): “A Valsa Vienense é a mais antiga das Danças de Salão tradicionais. Já na Idade Média, os pares davam volta no salão, girando em torno de si mesmos em postura fechada, para finalizar uma rodada de dança”.

Entre os séculos XIX e XX, a Dança de Salão popularizou-se e lotou os salões públicos de dança. Em 1907, na cidade de Nice, na França, houve o primeiro torneio de Danças Latinas. Já em 1909, foi realizado o primeiro Campeonato Mundial de Dança de Salão em Paris, na França.

Lembra Ried (2003, p. 10), que em 1910: “[…] o Onestep invadiu as pistas, desenvolvendo-se posteriormente para o Foxtrot. Danças como Cakewalk, Boston, Ragtime e Twostep ultrapassaram as danças tradicionais giratórias como Valsa e Polca”. Completa a autora que, em 1912, realizou-se no Admiralspalast, uma grande casa de espetáculos em Berlim, a primeira Competição de Dança de Salão na Alemanha, cujas danças exibidas foram Onestep, Boston e Tango.

Em 1922, na cidade de Londres, no Reino Unido, houve também um Campeonato Mundial. Em 1932, foi criado o setor de Dança de Salão da Imperial Society of Teachers of Dancing (Sociedade Imperial dos Professores de Dança) que sugeriu a criação de uma organização internacional. De acordo com o site da Confederação Brasileira de Dança Esportiva (CBDance), a missão dessa Sociedade era padronizar a música, os passos, e a técnica de Dança de Salão. Ao longo dos anos, a Dança de Salão estendeu sua popularidade por toda a Europa, Ásia, África e América do Norte.

Especificamente em 10 de dezembro de 1935, surgiu a Federação Internacional de Dançarinos Amadores, que, tendo em vista o caráter cada vez mais esportivo da atividade, passou a adotar, a partir de 1988, o termo Dance Sport (Dança Esportiva), nas competições. Essa Federação Internacional foi fundada em Praga, na República Tcheca, pelos seguintes países: Áustria, Tchecoslováquia (atual República Tcheca), Dinamarca, Inglaterra, França, Alemanha, Holanda, Suíça e Iugoslávia.

Já em 21 de setembro de 1950 foi fundada, na Escócia, o Conselho Internacional de Dança de Salão (ICBD), que se tornou a primeira organização de dança internacional no mundo.

Vale ressaltar que, nos anos 50, o Jitterbug, Boogie e Jive que surgiram durante a II Guerra Mundial partindo do Blues, Swing e Lindy Hop, deram origem ao Rock’n Roll (RIED, 2003).

Em 12 de maio de 1957, foi fundada, pela Áustria, Dinamarca, França, Alemanha, Grã Bretanha, Itália, Holanda e Suíça, o Conselho Internacional de Dançarinos Amadores (ICAD), sendo que, em 7 de julho de 1958, a Bélgica, a Noruega, a Suécia e a Iugoslávia também passaram a fazer parte dele. Vários foram os presidentes da ICAD, sendo que todos eram alemães: Otto Teipel (1957-1962), Heinrich Bronner (1962-1963), Rolf Fincke (1963-1965) e Detlev Hegemann (1965-1998).

Com o passar dos anos, foram sendo feitas competições organizadas entre a ICAD e a ICBD. A ICAD se tornou a única autoridade internacional de competições amadoras e a ICBD a única autoridade internacional de competições mundiais profissionais.

Criou-se então um Comitê com a ICAD e a ICBD, sendo que, em 1990, foi mudado seu nome para International Dance Sport Federation (IDSF), Federação Internacional de Dança Esportiva.  Em 1992, a Federação foi reconhecida na Associação Internacional de Federações Esportivas e, em 1995, no Comitê Olímpico Internacional.

Em 1997, ocorreu uma grande conquista quando a IDSF se tornou membro efetivo do Comitê Olímpico Internacional (COI), sendo que a Dança Esportiva foi reconhecida como modalidade olímpica. Nesse mesmo ano, a Dança Esportiva participou dos Jogos Mundiais na Finlândia. Essa situação, extremamente importante na história do crescimento da Dança Esportiva, é retratada nas palavras de Ried (2003, p.15): “[…] um grande passo à frente foi dado pela comunidade esportiva da Dança de Salão quando o Comitê Olímpico Internacional reconheceu, em 1997, a Federação Mundial de Dança de Salão como Federação Olímpica Oficial”.

De acordo com o presidente, os principais objetivos da IDSF são: avançar, promover e proteger a característica, o status e os interesses da Dança Esportiva pelo mundo; desenvolver regras de competições internacionais; oferecer assistência às confederações específicas dos países; representar a Dança Esportiva no Movimento Olímpico.

Como algumas das conquistas, podemos citar as apresentações de Dança Esportiva nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000), o fato de a modalidade fazer parte dos World Games desde 2001 e a IDSF possuir uma comissão antidoping.

De acordo com as próprias palavras do presidente Carlos Freitag, por sua beleza visual, a Dança Esportiva está entre as modalidades mais transmitidas na televisão dos EUA e Europa. Seus eventos costumam ser transmitidos para mais de 150 milhões de lares em todo o mundo e contam com patrocínios expressivos.

A Dança Esportiva é uma modalidade na qual casais dançam sob um enfoque esportivo, sendo muito praticada e difundida em diversas partes do mundo há mais de cem anos. No Brasil, entretanto, a Dança Esportiva está apenas surgindo e, com o intuito de difundi-la, a Confederação Brasileira de Dança Esportiva (CBDance) que iniciou tal difusão no Brasil, realizou desde o seu surgimento, diversos campeonatos, cursos e parcerias enquanto organização representativa de classe no Brasil.

Formada em 2005, a CBDance foi criada para difundir o esporte e inserir o Brasil no contexto mundial da Dança Esportiva. Seguindo as normas adotadas pela International Dance Sport Federation (IDSF), a CBDance pretendia estimular a prática da Dança Esportiva, formar multiplicadores, organizar competições de âmbito nacional, criar um ranking nacional e preparar atletas para representar o Brasil em competições internacionais.

De acordo com o site oficial da CBDance, a Dança Esportiva é um esporte definido como dança aos pares, constituído por um homem e uma mulher (que podem ou não ter relação afetiva ou familiar) ou apresentada por vários pares dançando juntos de forma combinada. Usam a técnica apropriada e interpretação artística com o objetivo de produzir uma performance altamente disciplinada.

Devido às suas características, a Dança Esportiva agrega a seus praticantes valores esportivos e educacionais como benefícios físicos, hábitos saudáveis, disciplina, integração, respeito, cooperação e muitos outros. Por esses valores, pode ser praticada por grupos de diferentes idades e portadores de necessidades especiais, independentemente do envolvimento com competições, agregando valores nas seguintes grandes áreas: lazer, educação, treinamento e competição.

Já em 20 de fevereiro de 2013, surge o Conselho Nacional de Dança Desportiva e de Salão- CNDDS que atualmente é o Órgão Máximo dessa modalidade no Brasil sendo uma Associação de direito privado, sem fins lucrativos, constituída nos termos da Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002.

No site oficial do mesmo é possível perceber que tal órgão promove e regulamenta a Dança Esportiva dentro do Brasil, tendo por orientação os códigos das regras desportivas e normas legais publicados pela World Dancesport Federation- WDSF, entidade internacional a quem está associada. Atualmente conta com 79 membros filiados e diversos praticantes da modalidade distribuídos em vários estados do país tais como Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo.

Vale considerar também que, após o fechamento da CBDance, atualmente é o CNDDS que orienta e realiza diversos campeonatos da modalidade, cursos de formação para atletas e árbitros e está em parceria com seus membros para o desenvolvimento e a promoção do esporte no Brasil.

Os campeonatos mundiais que seguem o Sistema Internacional de Dança de Salão organizado pela IDSF são realizados nas quatro seções abaixo.

  • Danças Standard: valsa lenta, valsa vienense, quickstep, slowfox, tango internacional;
  • Danças Latinas: samba, cha-cha-cha, rumba, paso doble e jive;
  • Dez Danças: reúne as seções Standard e Latina, citadas acima;
  • Rock & Roll: inclui rock & roll, boogie-woogie e lindyhop, e seguem o regulamento da WRRC (Confederação Mundial de Rock & Roll).

Segundo Oliveira et. al. (2002), danças mais recentes como o Mambo, a Salsa e o Merengue, se enquadram no Sistema Internacional de Dança de Salão, porém não oficialmente.

De acordo com site oficial, o CNDDS tem a intenção de preservar a cultura nacional por meio da Dança de Salão Brasileira e estimular a prática e o estudo do movimento na Dança Esportiva.

Atualmente, no mundo, temos a prática do Ballroom Dance, que pode ser entendido como a Dança de Salão Internacional, e tem como objetivo principal a prática da dança sem um compromisso com regras nem a necessidade de performances. É uma dança com objetivo social, voltada exclusivamente para o lazer e contempla os mesmos ritmos das danças standards e latinas supramencionadas. Segundo Macara et. al. (2011), a Dança de Salão de competição desenvolveu-se a partir do Ballroom Dance, evoluindo ao nível de espetáculo. Com isso, critérios técnicos como a qualidade de execução, a interpretação musical e a caracterização passaram a ser imprescindíveis e indissociáveis.

Atualmente, a Dança Esportiva contempla 88 confederações ao redor do mundo, sendo que 66 delas já foram reconhecidas em seus países pelos Comitês Olímpicos Nacionais. Possui aproximadamente cinco milhões de atletas e trabalha cooperativamente com a Confederação Internacional de Dança em Cadeira de Rodas.

Segundo Freitas e Tolocka (2005), na década de 1960, apareceu a Dança em Cadeira de Rodas que, de atividade recreativa apenas em países europeus, passou a ser vivenciada de maneira competitiva e conhecida aqui no Brasil como Dança Esportiva em Cadeiras de Rodas (DECR). Acrescenta as autoras ao afirmarem que “[…] no caso da DECR, a dança é também uma possibilidade de ressignificar a relação com o corpo e com a sociedade, experimentando novas formas de movimentar-se” (p.42).

Um aspecto neste artigo importante de ser esclarecido diz respeito à organização na formação dos professores de Dança Esportiva. Todas as Confederações subsidiadas pela IDSF devem organizar diversos cursos de formação para possíveis interessados em se tornar treinadores.

Além de cursos periódicos, no Brasil, por intermédio do CNDDS são oferecidos, também, cursos de formação com treinadores internacionais vindos a convite da IDSF. Vale ressaltar que, para se tornar um treinador, há a necessidade de filiar-se ao Conselho Nacional de Dança Desportiva e de Salão, que cobra uma taxa anual de filiação.

No Brasil, podemos caracterizar muitos dos variados ritmos dançados nos salões do país como específicos de nossa cultura. Um exemplo típico dessa característica é o Samba, já que no Brasil temos ao menos quatro tipos de samba que podem ser dançados em casais: o Samba de Gafieira, o Samba Rock, o Samba Funkeado e o Pagode.

Quando correlacionamos o Samba Internacional da Dança Esportiva ou do Ballroom Dance com o Samba Brasileiro, temos uma grande diferença nos movimentos propostos. Como no Brasil temos uma diversidade muito grande nos ritmos dançados, preferimos, como discutido no último artigo publicado, diferenciar então uma Dança de Salão dita Brasileira, de uma especificamente, com viés Internacional.

Por fim, fica claro frente esse apanhado histórico acerca da Dança Esportiva, que o mercado brasileiro tende a crescer muito nos próximos anos. É sabido, que cada vez mais novas competições são organizadas no Brasil, e certamente a incorporação de novos adeptos seja como atletas, treinadores ou mesmo árbitros, apenas farão com que todos os envolvidos ganhem. Não podemos, como indivíduos críticos, nos negar novas oportunidades de aprendizagem e é nesse sentido, que significamos esse mercado infinitamente extenso que é visto quando nos apropriamos do que é feito por meio da Dança Esportiva atualmente no mundo.

Referências:

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE DANÇA ESPORTIVA. Disponível em: http://www.cbdance.com.br. Acesso em: 20 jan. 2011.

CONSELHO NACIONAL DE DANÇA DESPORTIVA E DE SALÃO. Disponível em: http:// http://www.cndds.org.br. Acesso em: 28 fev. 2018.

FREITAS, M. do C. R.; TOLOCKA, R. E. Desvendando as emoções da Dança Esportiva em Cadeira de Rodas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 13, n. 4, p. 41-46, 2005.

 MACARA, A.; SOUZA, M. A. da C.; MINATTI, T. de O. Auto-estima de praticantes de dança parafolclórica e de dança de salão de competição. In: FIPE BULLETIN, v. 81, 2001. Edição especial.

 OLIVEIRA, S. R. G. de; VOLP, C. M.; OTAGURO, L. M.; PAIVA, A. C. de S.; DEUTSH, S. Espaço interpessoal na dança de salão. In: Motriz, 2002.

 RIED, B. Fundamentos de Dança de Salão: Programa Internacional de Dança de Salão; Dança Esportiva Internacional. Londrina: Midiograf, 2003.

SILVA, T. J. da; LUSSAC, R. M. P.; ASSIS, M. R. Dança de Salão e cultura de paz: apontamentos iniciais sobre as possibilidades de investigação sob a perspectiva da Ciência da Motricidade Humana. Revista Digital, Buenos Aires, ano 14, n. 138, 2009.

Deixe um comentário

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.

Acima ↑